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23 de mai. de 2012

Dialogo com as Sombras 2ª PARTE (09,10,11) - OS Manifestantes, O Obsessor , O Perseguido

 

09 - Os Manifestantes
10 - O Obsessor
11 - O Perseguido





 9 - OS MANIFESTANTES

Variam muito as categorias de Espíritos que comparecem a um grupo mediúnico. Vimos aqueles que pertencem às equipes socor­ristas, dedicados ao bem, ao trabalho construtivo, à renúncia, ao amor fraterno. Claro que não são, nem se julgam, seres redimi-dos, à soleira da perfeição. Ainda trazem, como todos nós, impu­rezas e imperfeições, a que dão combate sem tréguas, nas lutas redentoras em que se empenham, O próprio trabalho a que se dedicam, de socorro às almas que sofrem dores maiores, é um dos mais eficazes instrumentos de auto-resgate. Ninguém precisa, e ninguém deve esperar perfeição, para servir, porque, então, nunca chegaríamos a fazê-lo.
No anverso da medalha encontramos os Espíritos envolvidos em dolorosos processos de atordoamento moral. Não nos iludamos com os seus rancores, sua gritaria, sua violência e agressividade: são terrivelmente infelizes, a despeito de tudo quanto digam ou façam. A couraça de ódio de que se revestem não passa de uma defesa desesperada contra a infiltração benéfica do amor. Temem mais o amor do que o ódio, mas desejam-no acima de tudo neste mundo. Não buscam, no fundo, outra coisa, senão serem conven­cidos de seus erros, para retomarem o caminho evolutivo, abando­nado, às vezes, há séculos ou milênios. E, coisa ainda mais estra­ nha, trazem também amor no coração, ainda que sepultado em profundas camadas de desesperança e desenganos.
Sem a pretensão de cobrir todo o terreno e esgotar o assunto, tentaremos apresentar e estudar algumas dessas categorias.


10 - O OBSESSOR

Todo o capítulo 23 de “O Livro dos Médiuns” é dedicado ao problema da obsessão, que Kardec considera, com a lucidez que o caracteriza, um dos maiores problemas decorrentes do exercício da mediunidade. Define ele como obsessão “o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas”. Em artigo para “Reformador” (1), escrevi o seguinte: “... a palavra obsessão é termo genérico de um fenômeno que pode desdobrar-se em três principais variedades: a obsessão simples, a fascinação e a subju­gação. A primeira delas é a menos perniciosa porque, usualmente, o médium — pois todo obsidiado tem forte componente mediú­nico — está consciente das manobras e dissimulações do Espírito, o que certamente o incomoda, mas não o perturba a ponto de pro­vocar desarranjos mentais.”
Esse artigo prossegue comentando Kardec, para dizer que a fascinação é bem mais grave, “porque o agente espiritual atua dire­tamente sobre o pensamento de sua vítima, inibindo-lhe o racio­cínio e levando-a à perigosa convicção de que as idéias que expressa, por mais fantásticas que sejam, provêm de um Espírito de elevado gabarito intelectual e moral. Seu engano é evidente a todos, menos a ele próprio, que segue, fascinado e servil, o Espírito que se apoderou sutilmente de sua mente”.
“Na subjugação” — diz ainda o artigo —, “Kardec distingue dois aspectos: a moral e a corporal. No primeiro caso, o ser encarnado é constrangido a tomar atitudes absurdas, como se esti­vesse completamente privado do seu próprio senso crítico. No se­gundo caso, o obsessor “atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários”, obrigando a sua vítima a gestos de dra­mático e lamentável ridículo.”
Acha, por isso, o Codificador, “que o termo subjugação é mais apropriado do que possessão, de uso mais antigo”. Nessa linha de raciocínio, portanto, o que conhecemos por possessão não seria senão um caso grave e extremo de obsessão.
Ao reexaminar o problema, em “A Gênese”, Kardec chama a obsessão de “ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo”, enquanto que na possessão, “em vez de agir exterior­mente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no en­tanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão de que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção”. (Os destaques são desta transcrição.)
“Ensina Kardec” — prossegue o artigo — “que, na obsessão grave, o obsidiado fica envolto e impregnado de fluídos pernicio­sos que cumpre dispersar pela aplicação “de um fluído melhor”, ou seja, por processos magnéticos, através de passes, por exemplo.”
“Nem sempre, porém” — adverte Kardec —, “basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente (des­taque do original) ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade que, entretanto, falece a quem não tenha supe­rioridade moral. Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.”
E acrescenta:
“Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna que o Espírito perverso seja levado a renun­ciar aos seus maus desígnios; que se faça que o arrependimento .desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.” (Destaques desta transcrição.)
Ninguém poderia descrever melhor, em tão poucas palavras, o programa — síntese do processo de desobsessão: o obsessor não deve ser arrancado à força ou expulso. Ele precisa ser convencido a abandonar seus propósitos e levado ao arrependimento. Isto se faz buscando com ele um entendimento, um diálogo, pelo qual procure mos educá-lo moralmente, mas sem a arrogãncia do mestre petu­lante, e sim com o coração aberto do companheiro que procura compreender as suas razões, o núcleo de sua problemática, o porquê da sua revolta, do seu ódio. Por mais violento e agressivo que seja, é invariavelmente um Espírito que sofre, ainda que não o reconheça. A argumentação que utilizarmos tem que ser convincente.
A obsessão é, amiúde, um processo de vingança. Deseducado moralmente, como diz Kardec, o Espírito perseguidor busca alívio para o seu sofrimento fazendo sofrer aquele que o feriu, tornando-se ambos infelizes e envolvendo ainda outros nas tramas das suas desgraças. É preciso observar, no entanto, que tudo está pre­visto nas leis divinas, que, ao mesmo tempo em que permitem a cobrança de nossas faltas, nos liberam, pelo resgate. A obsessão é impotente diante de Espíritos redimidos.
Voltaremos a cuidar do problema, quando tivermos de conver­sar, mais adiante, acerca das técnicas e recursos sugeridos para o trabalho.

(1) “Reformador” de maio de 1074, artigo “Possessão e exorcismo”.



11 - O PERSEGUIDO

A vítima da obsessão é sempre uma alma endívidada perante a lei. De alguma forma grave, no passado mais recente, ou mais remoto, desrespeitou seriamente a lei universal da fraternidade, vindo a colher, como conseqüência inexorável, o sofrimento.
A falta cometida contra o semelhante expoe seu autor aos azares do resgate, mesmo que a vítima o tenha perdoado imedia tamente. Muitas vezes, a vingança como que se despersonaliza, passando a ser exercida não por aquele que foi prejudicado, mas por alguém em seu nome, ainda que não autorizado por ele. Não importa que o perseguido, ou obsidiado, esteja na carne ou no mundo espiritual. Não importa que se lembre ou não da ofensa. Não importa que a falta tenha sido cometida nesta vida ou em remotas existências. O vingador implacável acaba descobrindo o seu antigo algoz, mesmo que este se oculte sob os mais bem elabo­rados disfarces, ligando-se a ele por largo tempo, vida após vida, aqui e no Espaço, alucinado pelo ódio, que não conhece limites nem barreiras.
Em “Dramas da Obsessão”, narra o Dr. Bezerra de Menezes, pela mediunidade de Yvonne A. Pereira, um caso desses:
“Aterrorizado ante as vinditas atrozes movidas pelos Espíri­tos de seus antigos amos de Lisboa, o Espírito João-José preferiu ocultar-se numa encarnação de formas femininas, esperançado de que, assim disfarçado, não pudesse ser reconhecido. Enganou-se, porém, visto que sua própria organização psíquica atraiçoou-o, mo­delando traços fisionômicos e anormalidades físicas idênticas aos que arrastara na época citada.”
Uma vez identificado o antigo devedor, mesmo sob formas femi­ninas, desencadeou-se sobre ele toda a tormenta da obsessão.
Temos tido, em nossa experiência direta, casos semelhantes. Um foi particularmente doloroso e aflitivo, porque os compromissos do obsidiado eram muito graves e suas dívidas cármicas acusavam reincidências lamentáveis, que o deslocavam da posição de ex-algoz para a de joguete impotente de implacáveis vingadores. Começamos a cuidar dele, na esperança de minorar-lhe as dores, quando ainda encarnado. Por algum tempo, conseguimos aliviar a pressão que se exercia, dia e noite, sobre ele e sua família. Em nosso grupo, assistimos a um trágico e incessante desfile de companheiros desar­monizados que enxameavam em torno dele, cada qual mais revoltado e odiento. Seus compromissos eram tantos, e tão sérios, que não conseguimos livrá-lo das suas dores, embora tenhamos alcançado, com a graça de Deus, apaziguar muitos dos seus temíveis carrascos e atraí-los para as tarefas de recuperação.
Como o seu caso tinha implicações profundas com o nosso plano geral de trabalho, segundo nos explicaram nossos mentores, tra­tamos dele por muito tempo ainda, havendo neste livro várias referências esparsas sobre ele, com os cuidados necessários para não identificá-lo.
Verdadeira multidão de Espíritos atormentava este irmão, jovem ainda na carne. Ao que me disse, certa vez, um de seus obsessores, custaram um pouco a identificá-lo em sua nova roupagem. Uma vez, porém, localizado, reuniram-se em torno dele, num cerco implacá­vel, que durava as vinte e quatro horas do dia, aqueles que ainda se sentiam com suas contas por ajustar com ele.
Seguiam-no nos seus afazeres diários e o atormentavam durante o desprendimento do sono, espetavam-lhe “agulhas” de todos os ta­manhos, impunham-lhe longos períodos de alienação, sopravam-lhe constantemente a idéia do suicídio, tomavam-lhe o corpo, inúmeras vezes, para as
mais tresloucadas atitudes, para fugas, caminhadas, crises de mutismo; postavam-se diante de sua visão espiritual, sob formas monstruosas; neutralizavam o efeito de intensivo tratamento médico e espiritual; indispunham-no com a família e descontrola­vam-lhe o pensamento, descoordenando-lhe as idéias.
Ao que nos foi indicado, em tempos da Roma antiga, exerceu, com destaque, o poder, e ajudou a desencadear uma das mais ter­ríveis perseguições aos cristãos. É certo que suas vítimas daquela época o perdoaram, se foram realmente seguidores fiéis do Cristo. Mas, e os outros, que lhe guardaram rancor? A quantos teria ele mandado tirar a vida, os bens, os amores, as esperanças, sem que estivessem preparados para suportar essas perdas, com equi­líbrio e resignação?
Ao cabo de alguns anos de implacável perseguição de seus adversários, enceguecidos pelo ódio, e a despeito de todo o cui­dado de que foi cercado, o pobre companheiro desencarnou tragicamente.
A perseguição continuou, talvez ainda mais encarniçada, do outro lado da vida. Estava agora mais exposto, mais acessível àabordagem de seus algozes, pois as obsessões não se limitam a atingir os encarnados. Ao contrário, os desencarnados são mais vulne­ráveis do que os encarnados, pois estes dispõem do “esconderijo” do corpo físico e se acham beneficiados pelo esquecimento tempo­rário de suas faltas, o que, de certa forma, lhes dá alguma trégua, em virtude do descondicionamento vibratório. A lembrança cons­tante dos crimes que cometemos nos mantém sintonizados com os perseguidores, e eles tudo fazem para que não nos esqueçamos dos erros praticados. Enquanto estamos remoendo nossas faltas, con­tinuamos ligados aos obsessores.
Devemos, então, esquecer de tudo, como se nada tivesse acon­tecido? Não, certamente. O arrependimento, porém, tem que ser construtivo, ou seja, ele não deve paralisar-nos. Cientes ou não da gravidade das nossas faltas — e, sem dúvida alguma, pratica­mo-las abundantemente no passado — é imperioso que nos vol­temos para as tarefas de reconstrução interior, de dedicação ao semelhante que sofre, de policiamento de nossas atitudes, palavras e pensamentos. É preciso orar, servir, buscar reacender a chama­zinha do amor, que existe em todos nós.
      — Vai e não peques mais — disse o Cristo.
Por muito tempo se pensou que isso fosse apenas um tema sugestivo, para pregar sermões bonitos; hoje sabemos da profunda realidade que encerra o ensino evangélico. O Cristo sempre ligou o problema do sofrimento, físico ou espiritual, ao do erro.
— Estás curado — diz Ele ao paralítico, a quem mandou tomar a sua cama e andar —, não peques mais, para que não te suceda algo ainda pior. (João, 5:14.)
Dessa forma, o erro — que os evangelistas chamam de pe­cado — acarreta o sofrimento, a punição, o resgate. Não que te­nhamos de nos redimir necessariamente através do mecanismo da dor. A dor não é inevitável, porque o processo da libertação pode dar-se também por meio do serviço ao próximo, do aperfeiçoamento moral, da prece e da vigilància. Da mesma forma, aquele que foi ferido pelo seu companheiro, por mais gravemente que o tenha sido, não deve nem precisa tomar a vingança em suas mãos, para que o outro resgate a sua falta. A lei do equilíbrio universal se incumbirá dele, senão hoje, no próximo século, ou no próximo mi­lênio, O resgate pode ser despersonalizado, isto é, ninguém deve nem precisa arvorar-se em seu executor. Isto não significa que, ao sermos ofendidos, devamos transferir o nosso impulso de vin­gança às leis de Deus. São muitos os que não tomam realmente a vingança em suas mãos, mas pensam, na intimidade do seu ser, com o mesmo rancor:
—  Ele pagará!
É verdade, ele pagará, seja com a moeda da dor, seja com a do amor, mas se emitimos o nosso pensamento de vingança e ódio, continuamos ligados ao erro, reassumimos os compromissos que po­deríamos ter resgatado com aquela humilhação ou aquele sofri­mento, pois é certo que ninguém sofre por acaso, dado que não há reparos dolorosos como forma de punição aos inocentes.
Neste ponto, mais de uma lição encontramos, ainda e sempre, no Evangelho de Jesus. E é por isso que nenhum trabalho de desobsessão, digno e sério, deve ser intentado sem apoio nos ensi­namentos do Cristo.
A questão é tão Importante, tão vital à problemática do espí­rito, que Jesus a imortalizou no texto da oração dominical, o Pai Nosso:
      -“... perdoa-nos as nossas dívidas — relata Mateus, 6:12 —, assim como perdoamos os nossos devedores..
No versículo 14, desse mesmo capítulo, Jesus é ainda mais ex­plícito:
— “Que se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vos perdoará o vosso Pai Celestial; mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará as vossas ofensas.”
Sob as luzes da Doutrina Espírita, o texto adquire uma di­mensão que antes não havíamos notado. É que o perdão que con­cedemos àquele que nos feriu não lava o ofensor do seu pecado, ou seja, da sua falta, mas libera o ofendido, que, com o perdão, evita que se reabra o círculo vicioso do crime para resgatar o crime. Nesse angustioso círculo de fogo e lágrimas, de revolta e dor, ficam presas, por séculos e séculos, multidões eneeguecidas pelo ódio e nunca saciadas pela vingança, pois a vingança não sacia coisa alguma, ela apenas junta mais lenha à fogueira que arde.
Por muito tempo achamos que toda essa doutrina do perdão fosse apenas um belo conjunto de figuras de retórica. A Doutrina dos Espíritos veio propor-nos um entendimento infinitamente mais racional e objetivo: o de que o perdão liberta. Não é uma simples teoria, é uma verdade, que o Cristo nos ensinou, mas que tanto temos relutado em experimentar.
Também neste ponto tivemos, certa vez, uma experiência ines­quecível. Um companheiro desencarnado, em lamentável estado de de­sorientação, perseguido por uma pequena multidão de implacáveis obsessores, acabou por ser recolhido pelos trabalhadores do bem. Alguns de seus perseguidores foram tratados e reeducados mo­ralmente, como ensina Kardec. Outros se afastaram, por sentir que a vítima punha-se fora de seu alcance. Alguns deles continuaram a ser levados ao grupo de desobsessão, a fim de serem doutrinados, e, no desespero em que viviam, descarregavam todo o seu rancor e agressividade sobre os componentes da equipe de socorro, espe­cialmente contra o doutrinador, por ser este o porta-voz, aquele que fala e procura convencê-los a abandonar seus propósitos, que eles julgam justíssimos.
Pois bem. Certa noite, volta, para receber os nossos cuidados, o companheiro que havia sido recolhido. Estava novamente em poder de um impiedoso hipnotizador, de quem já o havíamos subtraído, a duras penas. Ele próprio confessou o seu drama: recaira na faixa vibratória de seus perseguidores, ao deixar tombar as guardas que o protegiam. No decorrer do diálogo revelou-se mais impaciente do que nunca, exigindo, quase, solução imediata para o seu caso, pedindo a presença de parentes, sem nenhum desejo de entregar-se à prece e, acima de tudo, pronto para a vingança! “Assim que estivesse em condições” — e exatamente por isso não conseguia alcançar tais condições — “ele”, o obsessor, “iria ver...”
Meu Deus, como poderemos negar o perdão ao que nos feriu, se o exigimos para nós, exatamente para as dores que resultaram da nossa imprudência em ferir os outros?
O obsidiado só pensa em livrar-se de seus adversários, a qual­quer preço, mas se esquece, ou ignora, que ele também está em dívida perante a lei, pois, de outra maneira, não estaria sujeito à obsessão, o obsessor, por sua vez, procura punir o companheiro que o fez sofrer, deslembrado de que ele próprio criou, com a sua incúria, as condições para merecer a dor que lhe é infligida. Jul­ga-se no direito de cobrar, pensando assim cumprir a lei de Deus, para que a “justiça” se faça. E, de fato, a lei do equilíbrio uni­versal coloca o ofensor ao alcance da punição, que é, em suma, a oportunidade do reajuste. Por isso, dizia o nosso Paulo, em sua penetrante sabedoria:
—  Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.
Com freqüência, os perseguidos apresentam-se em nossos gru­pos, nos primeiros momentos da libertação. Quantos dramas, Senhor! Vêm transidos de pavor, cansados de prisões tenebrosas, fugindo de obsessões que lhes parecem terem durado uma eter­nidade. Esgotaram todo o cálice de profundas amarguras, sofreram todos os tormentos, passaram por todas as humilhações, submeteram-se a caprichos e desmandos, cumpriram ordens iníquas.
Um desses nos disse que estivera num dos calabouços infectos das trevas, onde nem chorar podia. Passaram-se séculos. Só nos pôde dizer que foi um sacerdote e que traiu alguém. Sente agora o peso de um enorme arrependimento e, quando convidado a orar comigo, não tem coragem de dirigir-se a Deus, pois se julga o úl­timo dos réprobos. A muito custo, consegue murmurar uma palavra:
      - Jesus!...
E fala baixinho, consigo mesmo:
— Que sacrilégio, meu Deus!
Outro, também egresso de um calabouço, não conseguia arti­cular a palavra; fazia entender-se por gestos. Trazia um peso na cabeça, que o obrigava a manter-se curvado sobre si mesmo e, além de tudo, estava cego.
Um terceiro apresenta-se com as “carnes” roídas pelos “ratos” e “baratas”, após um longo período de reclusão.
Quase todos trazem ainda no perispírito os estigmas de suas penas: cegueira, deformações e mutilações, e, na mente, a lem­brança de torturas e horrores inconcebíveis.
Subitamente, ao cabo de agonias seculares, durante as quais resgataram-se através da dor, escapam à sanha de seus perseguido­res, tornam-se inacessíveis aos seus processos, evadem-se das mas­morras e libertam-se do domínio magnético sob o qual se encon­travam. Em suma: a Lei disse o “Basta!” a que até mesmo o mais terrível perseguidor tem de obedecer, ao assistir, impotente, à es­capada da vítima. Chegou ao fim o processo corretivo e reajus­tador. Antes, era impossível: ninguém conseguiria interromper o curso da dor.
Este é o exemplo vivo da experiência mediúnica. Espíritos su­periores, e já redimidos, seguem-nos os passos, até mesmo às pro­fundezas da dor mais horrenda, sem poderem interferir senão com uma prece, ou uma vibração amorosa, pois o pobre companheiro transviado nem mesmo a presença dos amigos maiores pode per­ceber. Chegado, porém, o momento, tudo se precipita. Os mensa­geiros do bem estão apenas à espera de uma prece, ainda que somente esboçada, de um impulso de arrependimento, de um gesto de boa-vontade ou de perdão. Lembram-se da advertência do Cristo?
— Reconcilia-te com teu adversário enquanto estás a caminho com ele, para que não te arraste ele ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e este te ponha no cárcere. Digo-te que não sairás de lá enquanto não tiveres pago o último centavo.
Não está bem claro?
E muitos ainda acham que o Evangelho é só literatura... ou só poesia, ideal, inatingível... Razão de sobra teve Kardec para optar pela adoção da moral evangélica, pois há mais sabedoria e ciência nos textos ali preservados, do que em todos os tratados de psicologia jamais escritos e nos que ainda se escreverão. A problemática do ser humano, suas complexidades e seus mecanis­mos de reajuste, estão inseparavelmente ligados aos conceitos fundamentais da moral. Um dia, a psicologia e a psiquiatria desco­brirão o Cristo.

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